O
maior sonho da minha vida sempre foi ter um filho!!! Quando cheguei aos 30 anos
já não podia mais ver criança na rua que ficava imaginando minha filha (é
verdade, eu sonhava com o rostinho dela!). E dentro desse grande sonho eu fazia
grandes planos, e por ser nutricionista a alimentação sempre foi um super
projeto.
Quando
engravidei, virei uma compulsiva em artigos e livros de alimentação e
desenvolvimento infantil. Fiquei de repouso durante boa parte da gestação e
imaginem o que eu lia??? Maternidade, criança e alimentação.
Na gestação fiz todos os protocolos possíveis: omêga-3,
vitaminas , antioxidantes, controle de estresse, controle de peso....e ela
chegou, minha princesa, minha Rafaella!!!! De apenas 35 semanas, mas super
forte e saudável. E começamos a missão amamentar, que foi muito mais tranquilo
do que eu imaginava. Contei com a ajuda de uma enfermeira especializada em
amamentação, assim que cheguei da maternidade e aquela bebezinha prematura que
tinha que ganhar 25g/dia, ganhou 60g/dia, somente com leite materno. Bom, o meu
projeto estava indo super bem. Foram 6 meses de amamentação exclusiva!!!
Durante esses 6 meses segui minha alimentação ajustada para o
período (quem amamenta sabe a fome que temos!), as suplementações e as
restrições alimentares. Sei que existem vários fatores, mas seguir a dieta me
ajudou muito a voltar ao meu peso, ao trabalho, a controlar o cansaço e,
principalmente, a controlar as cólicas (poucas crises no caso da Rafa!).
E ai chegou o tão sonhado momento, a INTRODUÇÃO ALIMENTAR. Eu já
tinha tudo programado, todas as técnicas e os primeiros meses foram bem
tranquilos. Ela aceitava super bem tudo que oferecíamos. Eu madrugava para
fazer as papinhas e comidinhas (claro, eu era insubstituível!), vivia em
mercados buscando a maior variedade de produtos orgânicos. Sempre deixei ela
ter contato com os alimentos (uma bagunça deliciosa), nada de doces.....e ela completou
1 ano! Já ouviram falar em autonomia alimentar e seletividade? Prazer!!! Isso é
muito comum nessa fase e a Rafa começou nesse período a mostrar que ia me dar
muito mais trabalho do que eu imaginava.
E fomos levando, muitos estímulos, exemplos, técnicas....na
verdade sou adepta da teoria do amor, tenho paciência, acredito que a criança
merece uma explicação do que estamos fazendo, oferecendo ou pedindo que ela
faça. Não quer dizer que não brigue ou chame a atenção, mas acho fundamental escutar
e tentar entender o que a criança está querendo naquele momento.
Quando ela completou 2 anos (terrible
two, é verdade ele existe!!!!) a restrição alimentar piorou muito!!! E
imaginem uma mãe nutricionista, em uma casa mega saudável, com frutas,
verduras, legumes, sopas , nesse momento!!! Pirei!!! Não sou radical, mas foi e
até hoje é muito difícil lidar com a seletividade e restrição alimentar da
Rafaella. Meu lado nutri tenta me explicar diariamente que é uma fase, que
preciso manter todos os estímulos e que vai passar. Mas meu lado mãe vive em
conflito, nos dias mais difíceis minha vontade é de dar a primeira porcaria que
ela pedir só para mantê-la alimentada.
Hoje a Rafa está com 3 anos e meio e as coisas estão melhorando.
Ela é uma criança muito esperta e isso aumenta a minha dificuldade, ela sabe
muito bem o que quer (e principalmente o que não quer!) e forçar não funciona.
Assim, continuo estimulando e fazendo-a entender como as coisas funcionam, na
alimentação e em tudo que diz respeito ao seu desenvolvimento.
Quanto à aceitação alimentar, tanto qualitativamente, quanto quantitativamente,
percebo que as fases oscilam muito. Do nada a Rafa volta a aceitar o que já não
queria mais e, por outro lado, a dizer ¨eca!¨ para alimentos que até ontem
comia.
A escola ajudou muito no processo, ver os amiguinhos comendo a
fez aceitar muito mais novos alimentos. Quando vou pega-la na escola a primeira
coisa que ela me conta é que comeu tudo (nos dias que come, claro!).
Em casa todas as refeições que fazemos juntas eu monto o prato
dela com a maior variedade de alimentos, mesmo sabendo que tem algumas coisas
que ela diz não gostar. Deixo ela bem a vontade, ela adora pegar pedacinhos com
a mão, adora colocar um pouco de farinha de mandioca no prato falando que é um
pozinho mágico, adora comer brócolis com a mão falando que é uma árvore...e
assim, na brincadeira, hoje ela já aceita uma variedade muito maior. Quando
vejo que não vai ter jeito, uso alguns alimentos que sempre tenho em casa e que
fomos descobrindo ser um sucesso durante esse processo. Um exemplo é o famoso
¨bolinho do Huck¨, ele me salva!!!! Trata-se de um bolinho de arroz assado com
espinafre batido (e com tudo mais que eu quiser!) que ela acha o máximo por ser
verde igual ao super herói.
Ah, outra dica! Amo fazer sopas e, principalmente no frio, esse
é meu jantar. E tento levar ela no meu ritmo, alguns dias ela ama e em outros
ela nem chega perto, mas vale a tentativa, porque nas sopas conseguimos incluir
vários alimentos nutritivos.
As frutas estão sendo a minha maior dificuldade no momento, de
repente ela passou a não aceitar quase nenhuma (lembram-se da autonomia
alimentar e seletiva? Pois é!). E o que faço? Levo-a na feira frequentemente
para me ajudar a escolher, ela conhece todas!!! Tenho uma fruteira grande na
entrada da cozinha, ela sempre vê a gente comendo e isso a estimula sem que
tenhamos que travar uma “guerra” por dia. Ah, o dia da fruta na escola é
sensacional!
E assim vamos indo, com estímulos, mas sem forçar ou
brigar.
Quanto as famosas ¨porcarias¨, no começo nem me preocupava, pois
ela era seletiva a tudo, nunca foi uma criança de provar ou colocar as coisas
na boca. Hoje isso mudou!!! Com a escola, as amiguinhas, as festinhas, o
aumento da interação social ela foi descobrindo alguns alimentos que não
costumo ter em casa e precisamos criar um equilíbrio para isso. A única coisa
que sou extremamente radical e é proibido oferecer a ela é refrigerante, se
alguém perguntar o que é Coca-cola ela vai responder no ato: é veneno!!! Ai
rola um terrorismo mesmo. O restante ela pode comer sim em festinhas ou
encontros....e tenho que confessar que ela gosta bastante!!!
Como mulher, a Rafa já nasceu amando chocolate!!!! Até os 2 anos
ela não comeu nada de doces, mas o primeiro dia que colocou um chocolate na
boca veio correndo me contar que era uma delícia!! Em casa costumo não ter, não
oferecer e, na verdade, até escondo. Mas em locais onde os outros estão comendo
ou em finais de semana com os avôs, relaxo e deixo-a ser feliz. Acredito que se
eu for radical demais, quando ela estiver com maior autonomia nas escolhas
alimentares, irá buscar o que sempre foi proibido e que ela queria muito.
A
maternidade faz a gente se reinventar!!!
Porque
escolhi essa frase para começar? Porque diariamente me lembro disso, de como a
maternidade muda a gente, de como passamos a ser o exemplo para os nossos
filhos e de como conseguimos nos adaptar a essa nova realidade. Na alimentação,
acreditava que minha filha seria a criança mais versátil, disciplinada, enfim,
um exemplo. Porém, ela me mostrou, mais uma vez, que não controlo tudo e que,
como todo ser humano, ela tem suas próprias vontades e escolhas que devem ser
respeitadas. A Rafa me fez entender e conseguir ajudar muito mais todas as mamães
que chegam ao meu consultório com as mesmas dificuldades que eu descobri. Buscando o melhor para os pequenos
acabamos nós mesmas nos surpreendendo com novas alternativas e
possibilidades!!!
Excelente texto, até os dois anos meu filho comia de tudo, coisas que nem eu gostava, parece que o relógio da seletividade acionou ao apagar as velinhas do aniversário de 2 anos. Depois de 9 meses e com muita criatividade consigo introduzir (escondido) vários alimentos saudáveis.
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