sexta-feira, 12 de maio de 2017

Vai se o marido...Fica o amigo



Na foto, para vocês saberem ,os protagonistas dessa história(da esquerda para a direita):
João Vítor (filho do Beto com a Andrea)
Andrea (esposa do Beto)
Beto (pai da Duda)
Duda (filha da Simone e do Beto)
Simone ( autora do texto)
Sérgio ( marido da Simone)

A minha história começa com um erro de interpretação, baseada em uma ideia que me foi passada de algo que bem, não era bem assim. Meus pais não se beijavam na frente da gente. E também não brigavam na frente da gente. Tinham a ideia de que crianças deveriam ser poupadas desse tipo de coisa. Acreditavam que se vissem muitos beijos e carinhos típicos de casal as crianças poderiam ter “ideias” cedo demais. E as brigas, bem, também não eram “coisa de criança”. Desta forma, na minha visão, meus pais eram os melhores amigos! Nunca brigavam, estavam sempre juntos em tudo, se ajudavam... Puxa, que legal, então casamento era isso, uma amizade pra vida toda!!
Isso provavelmente permeou toda a minha vida. Tomei muitos “tocos” na adolescência e juventude gostando de meninos que não estavam nem aí comigo e namorei uns poucos que obviamente começaram na amizade, mas quando conheci o Beto, achei que tinha encontrado o companheiro pra vida. Um cara legal, bem-humorado, engraçado (como eu), boa gente e que depois de pouco tempo, me conhecia como ninguém. Ele sabia (e ainda sabe) o que eu estava pensando apenas no levantar da minha sobrancelha. Não era um cara muito afetuoso, mas pra que? Eu também não era, meus pais também não eram com a gente. As relações que eu tinha como exemplo eram de muita confiança e cooperação, mas muito pouco toque.
Achei que tinha encontrado o cara ideal. Nós éramos a alegria da moçada nas festas. Um casal inteligente, engraçado, que se dava com todo mundo, afinal, nunca rolou ciúme de nenhum dos lados, então, até quem não tinha par, se sentia à vontade com a gente. O casamento veio meio de sopetão. Já havia um namoro de um ano e um noivado idem, porém, a ideia de casamento surgiu e se concretizou em menos de um mês. Ele queria experimentar viver no país onde nascera e eu que também era chegada em aventura, afinal já tinha morado em outro país de intercâmbio, topei a parada. E naquela época não tinha isso de juntar as mochilas e ir morar junto em outro país (isso porque já tínhamos 25 anos hein??) – tinha que casar, de preferência na igreja... Então, tá, né?
Casei sendo um zero à esquerda como dona de casa, pois tudo o que eu fazia era estudar e trabalhar muito, sempre. Mas o Beto nunca ligou, sempre foi de boa. Pegava as roupas do varal sem passar e vestia, comia pizza gelada... Isso não era e nunca seria um problema, tenho certeza. Enquanto moramos na Europa e na África foi tudo de boas. Mas tinha sempre uma pulga atrás da minha orelha que me dizia que tinha algo errado ali. Eu observava outros casais e sentia que faltava alguma coisa na gente, mas não sabia o que era. Até que voltamos para o Brasil e as reais dificuldades começaram. Éramos uma comunidade hippie. Morávamos juntos, mas cada um tinha seus próprios interesses. Saímos muito com amigos, e muito sozinhos também (cada um para um lado). Acho que na cabeça dos dois começou a surgir uma desconfiança que aquilo fosse mesmo uma família... Aí no subconsciente, deve ter soado um alarme dizendo “ei o que falta aí é um filho”. Com um filho nos tornaríamos uma família. Putz, mas eu nunca pensei em ter filhos, sério, não era “um sonho de infância”... Não tinha certeza se daria certo como mãe... Eu não era muito fã de criança, nunca fui (e acho que ainda não sou muito, mas curto adolescentes, serve?). Mas o Beto era. Ele tinha sido perueiro, brincava com tudo quanto é criança... “ah vai dar certo então”, eu pensei.
Demorei um ano pra engravidar... afinal como todo bom casal de amigos a vida, digamos, “amorosa” era aquela coisa rara de ser ver (ele vai me matar se ler isso...) mas como eu não tinha nenhuma experiência anterior, não tinha ideia na época! E aí quando já havíamos desistido de tentar e estávamos planejando uma viagem de férias para Nova York, eis que surge “a pequena luz de natal” piscando no ultrassom para confirmar que a Eduarda (que ainda era Otávio, porque eu cismava que ia ser menino) tava chegando.



O medo de ser uma mãe ruim me atropelava as ideias então, eu comecei a “digerir” livros atrás de livros de educação infantil, mas a maternidade na minha cabeça não vinha... Aquela barriga era um estorvo e aquela criança, que mais parecia um hamster numa rodinha dentro da minha barriga, atrapalhava o meu raciocínio na hora de trabalhar!

Eu não era aquelas mães contemplativas que ficavam passando a mão na barriga e sonhando acordada. Pelo contrário, xingava um monte quando o telefone tocava e eu só conseguia levantar (com os 22kg a mais) quando ele já tinha parado. Além disso eu tinha que trabalhar (eu era e continuo sendo, o maior salário da família), não havia tempo para contemplação. Era leitura compulsiva para “aprender” e muito trabalho. O Beto curtia e tal, mas bem menos do que eu imaginava que seria. Quando ela nasceu, eu digo isso com tranquilidade porque ela sabe esta história, não foi amor à primeira vista não. Foi pânico, dificuldades e decepção. Cadê aquele homem que gostava de crianças? Ficou na perua. Nem uma fralda ele trocava. Tinha medo de pegar, podia quebrar... Acho que o último link que a gente tinha para estar casado, acabou ali. Ele ainda era meu amigão, mas para aquela fase da minha vida, ele já não tava sendo o apoio que eu precisava. Mas eu teria levado desse jeito mesmo, talvez por medo de preconceito, rejeição... Ser divorciada, ainda não era fácil há 18 anos atrás.

Ainda bem que um dia ele veio me dizer que achava que não gostava mais de mim “como mulher” mas que seria eternamente meu amigo. Eu sentia o mesmo, sempre senti, então, aceitei na hora a separação. Engraçado que no fórum, no dia de assinar os papéis a gente chorou. A gente queria que tivesse dado certo. E de certa forma, deu. Como tinha que dar, até onde tinha que dar.
A Duda tava com 1 ano e quatro meses. Foi uma barra porque eu me senti perdidaça – “e agora essa criança meu Deus, largada comigo!!” Na época minha mãe até sugeriu cria-la. Ainda bem que não aceitei!! Procurei uma psicóloga para levar a Duda para a gente passar de boa pelo divórcio e no fim, quem fez terapia fui eu. E foi maravilhoso. A partir daí meu amor por ela e o nosso vínculo tornou-se inquebrável!!

Eventualmente conheci aquele que seria o amor da minha vida e o melhor pai que a Duda poderia ter e o Beto também conheceu sua cara metade. E o mais engraçado é que ele me pedia opinião sobre as namoradas dele e quando ele conheceu a Andrea eu dei nota 10 (ela é muito 10 mesmo!!). Eles se juntaram, deram um irmãozinho pra Duda e logo depois foram morar na Europa, só retornando 12 anos depois.

Neste ínterim eu e a Duda desenvolvemos uma relação que eu jamais imaginaria!! Amigas, companheiras, confidentes, mega-carinhosas uma com a outra, e é claro que o carinho que recebemos do Sérgio, meu marido, contribuiu muito pra isso. Quando o Beto voltou da Europa, o Sérgio ficou meio apreensivo pois nunca havia dividido a Duda com ninguém! Isso mesmo. Ciúme de mim, nem pensar, mas dela, ele tinha sim. Mas a Duda tirou tudo isso muito de letra. Tudo que essa menina foi na vida, foi ser amada, por todos os lados, então, a gente só “somou”.
Somos uma família híbrida. Saímos juntos, frequentamos a casa uns dos outros, somos 4 amigos e nossos filhos, idem!! Tenho certeza que, ter tido um “divórcio tranquilo” foi importantíssimo para a cabeça dela. Não entendo casais que usam os filhos para ferirem um ao outro. Acabam ferindo apenas os filhos, na verdade.

Em 2015 a Duda se formou no ensino médio e no baile tinha que entrar e dançar valsa com o pai. Acham que ela se acanhou? Que nada, entrou com os dois, um em cada braço e dançou uma valsa com cada um! Acho que 19 anos e uns 50 livros depois, até que dei certo como mãe! 

2 comentários:

  1. Isso aí cunhada! Independente das escolhas que façamos, ou do rumo que nossas vidas tomam, os filhos não podem ser penalizados ou culpados. Eles tem que aprender a tirar a melhor lição das coisas...e, isso, com certeza você ensinou para a Eduarda!!!

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  2. Que lindo o texto! A história eu já conhecia (amo ser parte dela) mas sua sensibilidade e habilidade com as palavras a torna ainda mais bonita. Show!

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Como uma grande parte das mães da minha geração, me formei, trabalhei,casei,  viajei...e depois mesmo sabendo que não tinha realizado t...

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