Na foto, para vocês saberem ,os protagonistas dessa história(da esquerda para a direita):
João Vítor (filho do Beto com a Andrea)
Andrea (esposa do Beto)
Beto (pai da Duda)
Duda (filha da Simone e do Beto)
Simone ( autora do texto)
Sérgio ( marido da Simone)
Isso provavelmente permeou toda a
minha vida. Tomei muitos “tocos” na adolescência e juventude gostando de meninos
que não estavam nem aí comigo e namorei uns poucos que obviamente começaram na
amizade, mas quando conheci o Beto, achei que tinha encontrado o companheiro
pra vida. Um cara legal, bem-humorado, engraçado (como eu), boa gente e que
depois de pouco tempo, me conhecia como ninguém. Ele sabia (e ainda sabe) o que
eu estava pensando apenas no levantar da minha sobrancelha. Não era um cara
muito afetuoso, mas pra que? Eu também não era, meus pais também não eram com a
gente. As relações que eu tinha como exemplo eram de muita confiança
e cooperação, mas muito pouco toque.
Achei que tinha encontrado o cara
ideal. Nós éramos a alegria da moçada nas festas. Um casal inteligente,
engraçado, que se dava com todo mundo, afinal, nunca rolou ciúme de nenhum dos
lados, então, até quem não tinha par, se sentia à vontade com a gente. O
casamento veio meio de sopetão. Já havia um namoro de um ano e um noivado idem,
porém, a ideia de casamento surgiu e se concretizou em menos de um mês. Ele
queria experimentar viver no país onde nascera e eu que também era chegada em
aventura, afinal já tinha morado em outro país de intercâmbio, topei a parada.
E naquela época não tinha isso de juntar as mochilas e ir morar junto em outro
país (isso porque já tínhamos 25 anos hein??) – tinha que casar, de preferência
na igreja... Então, tá, né?
Casei sendo um zero à esquerda
como dona de casa, pois tudo o que eu fazia era estudar e trabalhar muito,
sempre. Mas o Beto nunca ligou, sempre foi de boa. Pegava as roupas do varal
sem passar e vestia, comia pizza gelada... Isso não era e nunca seria um
problema, tenho certeza. Enquanto moramos na Europa e na África foi tudo de
boas. Mas tinha sempre uma pulga atrás da minha orelha que me dizia que tinha
algo errado ali. Eu observava outros casais e sentia que faltava alguma coisa
na gente, mas não sabia o que era. Até que voltamos para o Brasil e as reais
dificuldades começaram. Éramos uma comunidade hippie. Morávamos juntos, mas
cada um tinha seus próprios interesses. Saímos muito com amigos, e muito
sozinhos também (cada um para um lado). Acho que na cabeça dos dois começou a
surgir uma desconfiança que aquilo fosse mesmo uma família... Aí no
subconsciente, deve ter soado um alarme dizendo “ei o que falta aí é um filho”.
Com um filho nos tornaríamos uma família. Putz, mas eu nunca pensei em ter
filhos, sério, não era “um sonho de infância”... Não tinha certeza se daria
certo como mãe... Eu não era muito fã de criança, nunca fui (e acho que ainda
não sou muito, mas curto adolescentes, serve?). Mas o Beto era. Ele tinha sido
perueiro, brincava com tudo quanto é criança... “ah vai dar certo então”, eu
pensei.
Demorei um ano pra engravidar...
afinal como todo bom casal de amigos a vida, digamos, “amorosa” era aquela
coisa rara de ser ver (ele vai me matar se ler isso...) mas como eu não tinha
nenhuma experiência anterior, não tinha ideia na época! E aí quando já havíamos
desistido de tentar e estávamos planejando uma viagem de férias para Nova York,
eis que surge “a pequena luz de natal” piscando no ultrassom para confirmar que
a Eduarda (que ainda era Otávio, porque eu cismava que ia ser menino) tava
chegando.
O medo de ser uma mãe ruim me
atropelava as ideias então, eu comecei a “digerir” livros atrás de livros de
educação infantil, mas a maternidade na minha cabeça não vinha... Aquela
barriga era um estorvo e aquela criança, que mais parecia um hamster numa
rodinha dentro da minha barriga, atrapalhava o meu raciocínio na hora de
trabalhar!
Eu não era aquelas mães
contemplativas que ficavam passando a mão na barriga e sonhando acordada. Pelo
contrário, xingava um monte quando o telefone tocava e eu só conseguia levantar
(com os 22kg a mais) quando ele já tinha parado. Além disso eu tinha que
trabalhar (eu era e continuo sendo, o maior salário da família), não havia
tempo para contemplação. Era leitura compulsiva para “aprender” e muito
trabalho. O Beto curtia e tal, mas bem menos do que eu imaginava que seria.
Quando ela nasceu, eu digo isso com tranquilidade porque ela sabe esta história,
não foi amor à primeira vista não. Foi pânico, dificuldades e decepção. Cadê
aquele homem que gostava de crianças? Ficou na perua. Nem uma fralda ele
trocava. Tinha medo de pegar, podia quebrar... Acho que o último link que a
gente tinha para estar casado, acabou ali. Ele ainda era meu amigão, mas para
aquela fase da minha vida, ele já não tava sendo o apoio que eu precisava. Mas
eu teria levado desse jeito mesmo, talvez por medo de preconceito, rejeição...
Ser divorciada, ainda não era fácil há 18 anos atrás.
Ainda bem que um dia ele veio me
dizer que achava que não gostava mais de mim “como mulher” mas que seria
eternamente meu amigo. Eu sentia o mesmo, sempre senti, então, aceitei na hora
a separação. Engraçado que no fórum, no dia de assinar os papéis a gente chorou.
A gente queria que tivesse dado certo. E de certa forma, deu. Como tinha que
dar, até onde tinha que dar.
A Duda tava com 1 ano e quatro
meses. Foi uma barra porque eu me senti perdidaça – “e agora essa criança meu
Deus, largada comigo!!” Na época minha mãe até sugeriu cria-la. Ainda bem que
não aceitei!! Procurei uma psicóloga para levar a Duda para a gente passar de
boa pelo divórcio e no fim, quem fez terapia fui eu. E foi maravilhoso. A
partir daí meu amor por ela e o nosso vínculo tornou-se inquebrável!!
Eventualmente conheci aquele que
seria o amor da minha vida e o melhor pai que a Duda poderia ter e o Beto
também conheceu sua cara metade. E o mais engraçado é que ele me pedia opinião
sobre as namoradas dele e quando ele conheceu a Andrea eu dei nota 10 (ela é
muito 10 mesmo!!). Eles se juntaram, deram um irmãozinho pra Duda e logo depois
foram morar na Europa, só retornando 12 anos depois.
Neste ínterim eu e a Duda
desenvolvemos uma relação que eu jamais imaginaria!! Amigas, companheiras, confidentes,
mega-carinhosas uma com a outra, e é claro que o carinho que recebemos do
Sérgio, meu marido, contribuiu muito pra isso. Quando o Beto voltou da Europa,
o Sérgio ficou meio apreensivo pois nunca havia dividido a Duda com ninguém!
Isso mesmo. Ciúme de mim, nem pensar, mas dela, ele tinha sim. Mas a Duda tirou
tudo isso muito de letra. Tudo que essa menina foi na vida, foi ser amada, por
todos os lados, então, a gente só “somou”.
Somos uma família híbrida. Saímos
juntos, frequentamos a casa uns dos outros, somos 4 amigos e nossos filhos,
idem!! Tenho certeza que, ter tido um “divórcio tranquilo” foi importantíssimo
para a cabeça dela. Não entendo casais que usam os filhos para ferirem um ao
outro. Acabam ferindo apenas os filhos, na verdade.
Em 2015 a Duda se formou no
ensino médio e no baile tinha que entrar e dançar valsa com o pai. Acham que
ela se acanhou? Que nada, entrou com os dois, um em cada braço e dançou uma
valsa com cada um! Acho que 19 anos e uns 50 livros depois, até que dei certo
como mãe!
Isso aí cunhada! Independente das escolhas que façamos, ou do rumo que nossas vidas tomam, os filhos não podem ser penalizados ou culpados. Eles tem que aprender a tirar a melhor lição das coisas...e, isso, com certeza você ensinou para a Eduarda!!!
ResponderExcluirQue lindo o texto! A história eu já conhecia (amo ser parte dela) mas sua sensibilidade e habilidade com as palavras a torna ainda mais bonita. Show!
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